Sofrendo há meses com a falta da vacina contra varicela, também conhecida como catapora, Belo Horizonte viu o estoque de imunizantes contra a Covid-19 também acabar nesta semana. A capital, assim como o Estado, sofre com a falta das vacinas neste ano.
A Prefeitura de Belo Horizonte confirmou que os centros de saúde estão sem estoque das duas vacinas. Ainda não houve ampliação do público que recebe a prevenção contra a dengue, uma vez que a Qdenga segue sendo disponibilizada apenas para o público de 6 a 14 anos. “O município já acionou a Secretaria de Estado da Saúde (SES) sobre a situação. Não há, até o momento, previsão de recebimento de nova remessa das vacinas para reabastecimento das unidades de saúde”, declarou a prefeitura com uma ressalva. “Cabe ressaltar que as vacinas são disponibilizadas pelo Ministério da Saúde que as encaminham aos Estados que, por sua vez, as distribuem aos municípios”.
Segundo a prefeitura, a capital recebeu cerca de 18 mil doses da vacina contra a varicela, de janeiro a março. Em abril, maio e junho não foram encaminhadas remessas da vacina para Belo Horizonte. Em julho e agosto, o município recebeu cerca de 5.000 doses, quantidade insuficiente para atender à demanda mensal, que é de 6.500 doses. Ou seja, a capital recebeu, nos 11 meses de 2024, apenas 32% dos imunizantes necessários. Já sobre a vacina da Covid-19, o estoque zerou nesta semana.
A infectologista e epidemiologista Luana Araújo ponderou que a situação não exclusiva de Belo Horizonte, mas que ocorre em todo o país e tem causas diferentes. “A vacina contra varicela está em falta por um desabastecimento mundial, mas a produção já foi retomada e, a princípio, a expectativa é de que o abastecimento se normalize a partir de dezembro. O Brasil, inclusive, negociou doses com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), ainda em fase de liberação. Já a vacina contra a Covid tem outra razão para estar em falta. Houve uma falha do Ministério da Saúde em negociar as vacinas contando com todo o processo licitatório necessário na atual fase da pandemia, o que atrasou o abastecimento e ainda não temos uma previsão clara desse abastecimento com vacinas atualizadas”, contextualiza.
Segundo a especialista, a crise no abastecimento dessas vacinas é grave. “A varicela é uma doença que pode levar crianças a quadros difíceis e, na idade adulta, a quadros ainda mais complicados quando da primeira infecção. A redução da cobertura vacinal para a Covid, considerando que a vacina somente é oferecida hoje para grupos vulneráveis e que o vírus continua circulando livremente pelo país, coloca exatamente os mais frágeis sob um risco ainda maior de quadros graves, hospitalização e óbitos pela doença”, afirmou.
A reportagem procurou o Ministério da Saúde que informou que "não há falta de vacinas". A pasta esclareceu que enfrentou desafios momentâneos na distribuição de algumas vacinas devido a problemas com fornecedores e produção limitada global. "Desta maneira, houve redução no envio dos quantitativos solicitados pelos estados, sem deixar de atendê-los", disse.
"Sobre a oferta de vacinas contra Covid-19, uma nova remessa de 1,2 milhão de doses foi entregue a todos os estados do país em outubro deste ano. Para Minas Gerais, as doses foram entregues em 25 de outubro. Cabe à Secretaria de Estado de Saúde a distribuição das doses à Belo Horizonte e demais municípios mineiros. Não há, portanto, falta desta vacina. O Ministério da Saúde também concluiu um pregão para a compra de mais 69 milhões de doses de vacina Covid-19, que vão garantir o abastecimento por até dois anos com uma economia de mais de R$ 1 bilhão. Quanto à vacina contra a varicela, questões com um fornecedor internacional tem impactado a sua oferta globalmente. Para atender a demanda nacional, o Ministério da Saúde buscou outros fornecedores e fechou aquisições no total de 8,2 milhões de doses para regularização dos estoques. Em 2024, foram entregues 1,5 milhão da vacina varicela e 2,9 milhões da tetraviral", complementou no posicionamento.