Nunca deveríamos dizer que não gostamos de algo de forma peremptória, definitiva, taxativa. Você pode não gostar de um jeito, e apreciar de outro.

Por exemplo, eu não ava vagem. Aquele feijão-verde não me convencia, assemelhando-se à linhagem inútil e decorativa do chuchu.

Partia do princípio de que jamais me daria bem com o legume. Evitava pescá-lo nos buffets, distribuindo caretas quando alguém insistia para que eu comesse — porque, afinal, ajudava a regular o intestino, estimulava o sistema imunológico, controlava a glicemia e até promovia a saciedade, impedindo a gula desnecessária.

Mas resolvi arriscar o edamame num restaurante japonês, sem perceber que se tratava da mesma vagem, apenas com nome novo. E não é que adorei? Agora não abro mão da entrada, um aperitivo perfeito para acompanhar bebidas geladas. Mastigo as sementes compulsivamente, como um salgadinho sofisticado, com pitadas de sal.

Jamais imaginei que fosse me deliciar com a iguaria verde do continente asiático.

Não tenho mais como proclamar aos quatro cantos da cozinha que não tolero vagem.

Foi assim com o pepino. Cultivava ranço do pepino e seu formato de cacto. Para mim, era um salsichão que não deu certo. Eu me lixava para o fato de ser um diurético natural, eficiente na dissolução de cálculos renais. Pouco me importava que fosse rico em potássio, que proporcionasse flexibilidade aos músculos e elasticidade às células da pele. Ignorava solenemente que prevenia o câncer, com seus flavonoides e lignanas — antioxidantes poderosos —, ou que fortalecia as unhas, a visão, os cabelos. Ou ainda que protegia o coração.

Só que inventei de provar o sunomono, distraído do ingrediente, e me apaixonei pelo sabor levemente avinagrado, servido em pequenas cumbucas. Ironias do paladar. 

Fugi a vida inteira de fígado e jiló como o diabo da cruz. E não é que me derreti com o prato do Bar da Lora, na entrada do Mercado Central? Um clássico botequeiro: lascas de carne e de jiló cobertas por cebolas, feitas na chapa. Com um chopp, torna-se irresistível. Para comer de pé, fazendo continência. O segredo do local? Usar o jiló verde-claro, não o verde-escuro, e picá-lo bem fininho com fatiador do tipo mandoline.

A degustação seletiva também acontece com minha esposa, Beatriz. Ela não é adepta da banana. Sequer aguenta seu cheiro na gamela. Fica irritada com sua procissão de moscas. Mas não nega um bolo, uma geleia, um doce com a fruta.

Há quem peça guacamole e não morra de amores por avocado. 

Talvez você ame aquilo que julga odiar, desde que apresentado com um modo de preparo distinto.

É possível transpor a lição das quebras de expectativa, das exceções que surgem na culinária, para o campo da conversa no casamento. Uma advertência ou uma crítica, se envolvida com afeto e paciência, escoltada por um elogio e um acerto, conjugada no plural da relação, costuma ser bem acolhida.

Sinceridade não precisa machucar. Não tem a ver com o que você fala, mas com o tom das palavras.

Experimente sem preconceito.