BRASÍLIA — Favorito à presidência da República entre partidos de direita diante da inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) é um nome de centro, segundo defende o deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). Presidente do diretório tucano em Minas Gerais, ele avalia o governador de São Paulo como uma figura ponderada e um nome interessante para concorrer à eleição presidencial em 2026.
A análise tem ainda mais impacto diante da possibilidade de fusão entre o PSDB de Abi-Ackel e o Republicanos de Tarcísio, que discutem uma união com Podemos e Solidariedade para construção de um partido de centro. A aposta dos tucanos, aliás, é no abrandamento da polarização entre PT e PL e na intensificação do apoio às siglas mais ao centro.
“Vejo muitos nomes que, hoje, são um pouco mais vinculados à direita, mas, que se você conversar bem sobre o que eles pensam a respeito do Brasil, vai perceber que são pessoas mais comprometidas com o centro político”, argumenta o tucano. “Aqui cito o governador Tarcísio de Freitas. Ele tem, hoje, uma vinculação política com o presidente Jair Bolsonaro, mas é um homem de centro. O que precisamos é nos afastar da radicalidade”, avalia.
Para Abi-Ackel, o país se distanciou da política do diálogo entre os partidos, e os Poderes acabaram tomados por uma radicalização das ideias. Neste contexto, ele elogia o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que presidiu o Congresso Nacional nos últimos dois anos, cotado para concorrer ao Governo de Minas Gerais no próximo pleito.
“Ele tem índices de rejeição em razão de posições que tomou, certas posições que até não concordo, mas é uma figura respeitável que representaria muito bem Minas Gerais por sua dimensão intelectual e sua experiência pessoal como presidente do Senado”, analisa. Outros nomes, entretanto, têm menor apreço na avaliação do presidente estadual do PSDB.
Os tucanos descartam, inclusive, uma aliança com o Partido Novo do governador Romeu Zema, que pretende indicar o vice Mateus Simões como seu sucessor na Cidade istrativa. “A essa altura do campeonato temos diferenças cruciais que nos impediriam completamente de caminhar ao lado do projeto do Partido Novo nas eleições de 2026”, pontua.
“Enxergo boa vontade no Governo Zema. Acontece que falta para ele o que sobrava em nós: conhecimento, capacidade de fazer política, dialogar, vir ao presidente da República…”, diz. “O que estamos vendo hoje é uma diminuição muito significativa da importância de Minas no cenário das articulações políticas”, completa.
Abi-Ackel sugere que falta experiência a Mateus Simões. Em relação ao senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), outro nome cotado para o governo do Estado em 2026, o deputado avalia que a atuação política dele não condiz com o perfil necessário. “Respeito a figura do senador, mas sua forma de fazer política é muito diferente”, pondera.
Perguntado se o lançamento da candidatura de Cleitinho pelo Republicanos ao Governo de MG impediria uma fusão do PSDB com o partido, o deputado afirma: “Há, por outro lado, a notícia de que ele não ficará no Republicanos em hipótese alguma, havendo fusão ou não… Não sei o que será. Por enquanto, estamos tentando construir harmonias”.
PSDB aceita abdicar do nome por fusão com Republicanos b620
O diretório nacional do partido é unânime quanto ao futuro: uma fusão é necessária para garantir a sobrevivência do PSDB. A principal opção avaliada pelos tucanos é se unir a Republicanos, Podemos e Solidariedade. A articulação faria o partido saltar dos atuais 11 deputados para 76, transformando-o na segunda maior bancada da Câmara.
Para o presidente dos tucanos em Minas Gerais, deputado Paulo Abi-Ackel, sacrifícios deverão ser feitos para garantir a continuidade da história do PSDB. “Se for necessário abrir mão da sigla, que é representativa e integra a história brasileira, para a conjunção dar certo… Faremos esse sacrifício”, analisou. O deputado também é secretário-geral do partido.
Com trânsito entre figurões do partido, como Aécio e o presidente Marconi Perillo, Abi-Ackel ite que a negociação com o Republicanos avançou e o partido quer participar da construção de um bloco em direção ao Centro, uma alternativa à polarização PT e PL. “O PSDB está seguindo o movimento que muitos outros partidos têm feito. Há uma convicção de que o país não pode permanecer nessa anarquia partidário com mais de 30 siglas… Quinze das quais têm linhas ideológicas absolutamente semelhantes. É prejudicial para a qualidade do debate”, defende.
“Estamos buscando uma fórmula para convergência. Não é fácil e nem é simples. O Brasil é um país com 27 Estados, há núcleos que se opõem. Mas, acho que estamos caminhando para, dentro de duas ou três semanas, poder anunciar para o Brasil um novo grande partido, uma via de centro”, completo.
O mau desempenho do PSDB na última eleição municipal com o encolhimento em redutos históricos acendeu o alerta no diretório nacional, que partiu para intensificar as articulações e encontrar uma saída. Federações com MDB e PSD estiveram sobre a mesa da negociação capitaneada pelo presidente tucano Marconi Perillo. Mas, as conversas travaram em certo ponto.
A opção favorita, hoje, é a fusão. Mas, detalhes jurídicos e discussões sobre a identidade do novo partido e as individualidades de cada uma das siglas tornam o processo lento. A situação está adiantada em relação ao Podemos, presidido pela deputada Renata Abreu (SP), e a expectativa é que as conversas avancem nos próximos dias com Marcos Pereira e o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara.
As costuras também têm na mira as eleições de 2026. Em um ano e seis meses, os brasileiros vão às urnas escolher governadores, senadores, deputados estaduais e federais e o presidente da República. Em Minas Gerais, PSDB, Republicanos e Podemos têm discutido internamente com suas bancadas os nomes que pretende lançar; a discussão pode chegar a um ime em relação às duas cadeiras a que MG terá direito para o Senado Federal.
O PSDB pode lançar Aécio Neves ou Abi-Ackel, segundo fontes; o Republicanos deseja eleger o deputado Euclydes Pettersen, e o atual senador Carlos Viana (Podemos-MG) confirmou o interesse em disputar a reeleição.
“Por enquanto, estamos construindo harmonias nos Estados de forma que consigamos essa composição em um quadro maior”, ponderou Abi-Ackel.
O que é fusão? A Lei dos Partidos Políticos, de 1995, permite que as siglas decidam se unir; assim, os partidos existentes são extintos e criam uma nova sigla — um exemplo é o que ocorreu em 2022, quando DEM e PSL se fundiram para criar o União Brasil. A legislação determina que as direções dos dois partidos interessados na fusão elaborem estatutos e programas comuns, e, depois, elejam em votação conjunta o órgão de direção nacional. O grupo eleito é que fará o registro do novo partido.
O que é federação? As federações podem ser formadas por dois ou mais partidos e têm duração mínima de quatro anos. A aliança vale para as eleições para presidência, Senado, Estados e prefeituras, mas também para as eleições da Câmara dos Deputados, das assembleias e das câmaras dos municípios.
A norma prevê que, para as eleições proporcionais, as cadeiras serão distribuídas a partir dos votos de todos os partidos que integram a federação. Sobre eles são aplicados os quocientes eleitoral e partidário.