Quem já levou uma picada de abelha, sabe o quanto dói, arde e incomoda. Mas um tratamento para casos de artrite e artrose, entre outros, se baseia justamente na ferroada do inseto. A apiterapia consiste em aplicar o próprio ferrão de abelhas em determinados pontos do corpo do paciente. Os insetos são retirados de caixas de vidro com uma pinça e colocados sobre o corpo, provocando a picada e a liberação do veneno. Para cada condição de saúde, é realizada uma combinação diferente de pontos.

O veneno da abelha é uma toxina formada por diversas proteínas que causam uma inflamação local e atua como anticoagulante. “É uma substância ácida única. Pesquisas de universidades norte-americanas apontam que a substância tem efeito similar ao da cortisona, mas sem os efeitos colaterais”, afirma o apiterapeuta Luiz Pereira da Silva, o Tim. Nas sessões realizadas por ele, algumas pessoas chegam a receber mais de 70 picadas.

Os pacientes comprovam os benefícios da apiterapia. A vendedora autônoma Elizabeth Silva Magalhães tem uma malformação genética que faz com que sua coluna tenha um envelhecimento precoce. “Tenho 32 anos e a coluna de uma pessoa de 60. Já fiz cinco procedimentos cirúrgicos e ia toda semana ‘travada’ para o hospital. Os médicos disseram que eu teria que me acostumar com a dor”, conta.

Antes de começar a terapia com as abelhas, ela precisava tomar um anti-inflamatório e uma injeção com efeito de 30 dias. “O remédio que eu tomava era praticamente o mais forte e não estava mais fazendo efeito”, diz. Desde que começou a apiterapia, ela trocou todos os remédios pelas picadas.

“Nunca imaginei tomar ferroada de abelha, porque detesto agulha. Mas chegou um ponto em que não aguentava mais de dor”, revela.

Dor. Que o tratamento com abelhas é doloroso, nenhum dos pacientes nega. As caretas, testemunhadas pela reportagem de O TEMPO, eram unanimidade entre quem levava as ferroadas no local onde Tim realiza as aplicações.

Mesmo reclamando das picadas no joelho, o economista João Gualberto, 72, enfrenta bravamente o tratamento. Ele fez uma cirurgia para retirada de metade do menisco (cartilagem da região) há cerca de 20 anos e tem sequelas até hoje.

“Depois da cirurgia, o joelho ‘trava’, falha. Sem as abelhas, eu também sinto muita dor”, conta. Ele diz preferir levar as picadas a se submeter ao tratamento convencional, com injeções de cortisona.

Milenar. O uso da apiterapia no tratamento de artrite reumatoide é milenar, segundo um artigo publicado no periódico “American Journal of Chinese Medicine”. O mesmo artigo relata que experimentos feitos até em cães tiveram resultados positivos.

A musicoterapeuta Maria Áurea Miranda, 68, que luta contra a artrite reumatoide há 23 anos, encontrou qualidade de vida com a apiterapia. “No início, eu não aguentava nem ficar sentada 15 minutos que ia me dando uma dor e eu desmaiava. Não podia ter uma elevação no asfalto que eu gritava de dor”, conta.

Submetendo-se às aplicações de veneno há cerca de seis anos, ela agora não sofre mais. “As dores da artrite mesmo, eu não sinto”, comemora ela, que também trata alguns hematomas no rosto, causados por uma queda depois de um AVC.

Serviço

Atendimentos. O apiterapeuta Tim atende duas vezes por mês no salão da Associação dos Moradores do Anchieta, no bairro Anchieta. A sessão custa R$ 50. Informações: (31) 8606-1757.