Vontade de comer chocolate, bolo, carne, queijo, tomar leite. Ninguém foge aos desejos repentinos por um determinado tipo de alimento. Na maioria das vezes, essas ânsias vêm do organismo, que está mandando algum recado.

No caso da relações públicas Carla Siqueira, 28, a vontade é um pouco menos usual: cenoura. “Tenho vontade de comer cenoura crua e inteira, como o Pernalonga nos desenhos animados. Já até acordei de madrugada para comer”, revela. Ela conta que cenoura é um dos alimentos de que mais gosta e morre de vontade toda vez que fica muito tempo sem o vegetal.

Já a publicitária Mitiko Mine, 38, tem uns desejos repentinos por carne. Às vezes, até bife de fígado. “Normalmente eu não sou muito carnívora, e nem gosto de fígado. Mas, às vezes, sinto essa vontade. Acho que pode ser pela falta de algum nutriente”, relaciona. Ela conta que, na infância, era uma criança muito magrinha, que não gostava de comer. Então, consumiu vários bifes de fígado para curar uma anemia. “Acho que, hoje em dia, meu corpo deve estabelecer essa relação de alguma forma”.

A ciência não está exatamente do lado de Mitiko, mas até que sua intuição pode estar certa. Apesar de não existirem pesquisas científicas que comprovem a relação entre os desejos (de grávidas ou não) e a necessidade de um determinado nutriente, a experiência indica que, sim, pode haver uma relação entre as duas coisas.

“O mais comum é a vontade de comer doces. Às vezes, a pessoa a o dia inteiro comendo mal, e o corpo fica sem glicose. Quando chega a noite, ela recebe uma resposta do corpo dizendo que precisa repor aquilo rápido”, exemplifica a nutricionista funcional Karin Honorato, da clínica Trinutrix.

Esse recado também pode ser dado por uma falta de ferro ou proteínas, daí a vontade de comer carne. Ou por uma falta de vitaminas, e aí a pessoa pode ter vontade de comer legumes ou verduras. “Existem pessoas que não amam salada. Mas chega uma hora que essa pessoa ou tanto tempo comendo coisas sem nutrientes, que o organismo pede para comer um prato de legumes. Você já conhece aqueles alimentos, então o corpo já sabe que eles contêm o que o organismo precisa”, explica Karin.

Os desejos, por si só, não servem como diagnóstico para deficiência nenhuma. Nem é possível afirmar que toda vontade de comer alguma coisa está relacionada à falta de nutrientes. Mesmo assim, esse é um sinal que não deve ser ignorado.

“É importante se perguntar se você está com fome ou com vontade de comer. Se for vontade, tem que se perguntar por que está sentindo essa necessidade. Você pode até comer, mas saberá por que está comendo”, orienta o médico ortoterapeuta Roberto Figueiredo.

Fixação pode ser justificada por descoberta

A designer e encadernadora Emmanuelle Souza, 25, tem fases. “Às vezes eu cismo com abobrinha, por exemplo, e toda receita que vou fazer quero colocá-la. Isso dura alguns meses até eu cismar com outro alimento”, conta.

No caso dela, a “cisma” tem a ver com a descoberta de novos sabores. “Minha mãe só fazia abobrinha refogada, e eu detestava. Daí, descobri que dava para fazer chips e desidratar a abobrinha. Ela crocante e sequinha é muito melhor”, afirma. As vontades dela também mudam de acordo com as estações do ano: alface americana e saladas no verão, vinho e chocolates no inverno. 

Na maioria das vezes, desejos estão mais ligados ao psicológico

Para o médico ortoterapeuta Roberto Figueiredo, diretor da clínica Biocentro, somente em casos muito extremos o corpo sinaliza a deficiência de algum nutriente com uma vontade de comer algo específico. “Quando a pessoa tem uma falta grande de cálcio, é comum ela ter vontade de comer terra, tijolo. Quando tem falta de sódio, a vontade é de algo salgado”, ele cita.

Na maioria das vezes, porém, o processo está muito mais ligado ao psicológico. “Quando você tem vontade de comer pizza, não tem deficiência de nutriente nenhum aí. O que acontece normalmente é que você teve um período de muito estresse, cansaço, trabalhou muito e você quer comer como se fosse uma compensação pelo cansaço que teve”, aponta.

Figueiredo defende que a vontade de comer mora no nosso subconsciente. Segundo ele, nossa cultura relaciona tudo à comida. Comemos por prazer e relacionamos o prazer aos alimentos.
“A comida manda uma mensagem para o cérebro dizendo que aquele é o momento do prazer. O cérebro reage por meio dos hormônios, liberando serotonina, o hormônio da felicidade. É uma necessidade mais emocional do que física”, explica.

Fome de quê?

Medida
. O mais normal é sentir fome a cada três horas. Se você almoça e, uma hora depois, já quer comer de novo, pode desconfiar que não está com fome, mas com desejo de se premiar com comida. 

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